Literatura Joanina

Senhor, ensina-nos a rezar!

SALMO 86 (85) (ODJ, Geraldo Leite Bastos)

  1. Senhor, me escuta e responde, sou fraco e necessitado, me salva, sou teu amigo, teu servo em ti confiado.
  2. Tu és meu Deus, tem piedade, o dia todo te invoco, alegra meu coração pra ti, Senhor, eu me volto.
  3. Tu és perdão e bondade, acolhes aos que te imploram, atende agora esta prece, no meu sofrer me consola.
  4. Na angústia chamo por ti, pois tu respondes, Senhor. Que Deus faria o que fazes? Ninguém te iguala em amor.
  5. Os povos todos virão louvar a tua majestade; tu fazes grandes prodígios, só tu és Deus de verdade.
  6. Me ensina o caminho certo, pra andar em tua verdade, reúne meu coração, que siga tua vontade.
  7. De coração agradeço tão grande amor tens por mim, tiraste-me do abismo, assim te louvo, sem fim.
  8. Furiosos se levantaram, querendo me derrubar; contigo não se incomodam, altivos querem matar.
  9. Mas tu, Senhor de ternura, paciente, cheio de amor, de mim tem pena, ó Deus, atento a teu servidor.
  10. Me dá tua força, Senhor, teu servo vem libertar, e aqueles que me odeiam calados hão de ficar.
  11. Ao Pai, Senhor, demos glória. A Jesus Cristo também, Ao Espírito-Mãe de amor, Deus uno e santo. Amém!

Introdução:

Cinco livros do Novo Testamento são atribuídos ao apóstolo João: O Evangelho de João, o Apocalipse e as chamadas Epístolas de João. Estes cinco livros, conhecidos como literatura joanina, contém três tipos de literatura encontrada no Novo Testamento: história, epístolas e apocalíptica. As três Epístolas estão incluídas no grupo de escritos neotestamentários denominados Epístolas Gerais.

Evangelho Segundo João

  1. Autor – A tradição o atribuiu a João, filho de Zebedeu. Nada há, no próprio Evangelho, o que contradiga esta tradição. Ela vem desde Ireneu de Lião (180 d.C.), que identifica o discípulo amado com João. A introdução a este Evangelho, na Bíblia do Peregrino, afirma que hoje é muito difícil manter esta opinião

A maioria dos comentaristas considera este Evangelho como obra de um discípulo de João, uma geração mais tarde, mas profundo conhecedor do judaísmo e do Primeiro Testamento. Certamente ele coletou toda a memória e a vivência das comunidades joaninas. Naturalmente este Evangelho, como os sinópticos, é fruto do trabalho de toda uma comunidade

Sinópticos…Os exegetas chamam evangelhos sinópticos aos de Mateus, Marcos e Lucas; desde que a exegese começou a ser aplicada à Bíblia ainda no século XVIII que os especialistas se aperceberam que, dos quatro evangelhos, os três primeiros apresentavam grandes semelhanças em si, de tal forma que se colocados em três grelhas paralelas – donde vem o nome sinóptico, do grego συν, “syn” («junto») e οψις, “opsis” («ver») -, os assuntos neles abordados correspondiam quase inteiramente.

Por parecer que quase teriam ido beber as suas informações a uma mesma fonte, como os primeiros grandes exegetas eram alemães, designaram essa fonte por Q, abreviatura de Quelle, que significa precisamente «fonte» em alemão.

Quanto ao quarto evangelho, o de João, relata a história de Jesus de um modo substancialmente diferente, pelo que não se enquadra nos sinópticos.

Enquanto que os evangelhos sinópticos apresentam Jesus como uma personagem humana destacando-se dos comuns pelas suas ações milagrosas, já o Evangelho de João descreve um Jesus como um Messias com um carácter divino, que traz a redenção absoluta ao mundo.

  1. Língua — Grego, com um estilo cheio de conotações semíticas (judaicas).
  2. Data — É um dos últimos livros do Segundo Testamento, escrito pelos anos 95-100 d.C.
  3. Local — Muitos opinam que ele tenha sido escrito na Síria, talvez em Antioquia, que era um grande centro. Outros apontam Éfeso, pois, segundo a tradição, o apóstolo João aí viveu.
  4. Fontes — Os ensinamentos do discípulo amado e as condições de vida da comunidade joanina, que estava em meio a muitos conflitos e precisava então de ensinamentos e sinais, para “crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenha a vida em seu nome” (20,31).

João “viu e creu” (20,8) e quer confirmar a fé dos que “não viram e creram” (20,29). Este Evangelho é fruto de longa e profunda vivência de comunidades fiéis ao espírito de Jesus, que sempre se voltavam à sua pessoa e mensagem

  1. Circunstâncias — João parece ter sofrido muito a influência de uma corrente de pensamento em voga em seu tempo, o gnosticismo, que dava grande importância ao conhecimento (gnose). Isto levou João a adotar em sua linguagem certo dualismo: luz e trevas, verdade e mentira, luz do mundo e cegueira do mundo, bem e mal, anjo da luz e anjo das trevas. Este Evangelho não é tanto biográfico, mas é mais teológico e contemplativo, carregado de símbolos.
  2. Esquema
  1. Pontos fortes — Neste Evangelho alguns pontos são mais fortes:

O sentido do novo — Em Caná, em uma festa de casamento, aparece o primeiro sinal, que vai despertar a fé dos discípulos (2,11). Jesus dá um primeiro sinal da novidade da Aliança. As talhas que serviam para os antigos ritos de purificação, agora se enchem com a abundância do vinho novo, muito melhor que o primeiro.

Em Jerusalém, Jesus propõe destruir o velho Templo, para reconstruir em três dias um novo Templo: passar do sistema opressor para uma nova forma de convivência social, da qual seu corpo Ressuscitado será a pedra fundamental (2,19).

Para Nicodemos, Ele diz que é preciso nascer de novo (3,3- 8). Para o novo germinar, é preciso que, como o grão de trigo, ele morra (18,24).

Jesus nos dá um novo mandamento (13,34). Na cruz, Ele sela uma nova e definitiva Aliança com a humanidade

Os conflitos — Aparecem desde o início: “O Verbo veio para os seus e estes não o receberam” (1, 11). A partir do capítulo 5, os conflitos entre a vida e a morte são muitos: a cura do paralítico aumenta a perseguição a Jesus (5,8-18). E esta continua pelo Evangelho afora. A promessa de Jesus se fazer pão não é entendida, e a multidão se afasta (6,60-66). Há o conflito de origem:

“Quem és tu?’ e os judeus recusam-se a aceitar que Ele seja Filho de Deus (8,19.23.25.41-44; 9,16.28-33).

A liderança dos fariseus parece decrescer (9 e 10) e Jesus a enfrenta na parábola do bom pastor (10,1-21), na qual traça o retrato do autêntico líder.

Aos conflitos provocados pelos fariseus acrescem os certa mente mais dolorosos para Jesus, que foram os provocados pelos próprios discípulos: Pedro o nega, Judas o trai, todos o abandonam.

A ressurreição de Lázaro foi o ponto alto da libertação de Jesus. A “vida que era a luz dos homens” (1,4), agora restitui a luz da vida a seu amigo, morto há 4 dias (11).

A presença das mulheres também é grande em João. Maria, Mãe de Jesus, é quem lhe pede o primeiro milagre, que vai suscitar a fé dos discípulos (2,3-11).

A samaritana é a primeira mulher a quem Jesus dirige a palavra e que Ele transforma em apóstola de seus compatriotas, que levam Jesus para passar dois dias com eles e crêem nele (4,1-42).

A mulher adúltera é perdoada por Jesus, que, com isso, contraria a Lei (8,1-11).

Marta e Maria acolhem-no em Betânia, na ressurreição de Lázaro (11,1-45). Os três irmãos, Marta, Maria e Lázaro, representam a comunidade joanina, cheia de amor fraterno. Maria unge os pés de Jesus e enxuga-os com seus cabelos (12,1-8), demonstrando assim seu grande amor e sujeitando-se a ser alvo de recriminação. Marta faz a profissão de fé mais perfeita feita por alguém nos evangelhos: “Eu creio que és o Messias, o Filho de Deus que devia vir ao mundo” (11,27). Julgamos esta profissão de fé mais perfeita que a de Pedro (Mt 16,16), porque Pedro acreditava em um Messias glorioso (Mt 16,2 1-23) e Marta em um Messias pleno de humanidade.

Junto à cruz de Jesus estavam Maria, Mãe de Jesus, sua irmã, Maria de Cléofas, e Maria Madalena (19,25). Foi à sua Mãe que Ele entregou o discípulo amado e, nele, toda a humanidade (19,27).

Maria Madalena foi, após a morte de Jesus, procurá-lo no túmulo (20,1), viu-o e dele recebeu a missão de anunciar aos discípulos que Ele ressuscitara (20,11-18).

Fonte: Introdução ao Segundo Testamento – ITEBRA – Paulus

Montagem: Renato,SJ – 2009

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