Vigésimo Segundo Domingo do Tempo Comum

A verdadeira Religião 

O povo de Deus exilado na Babilônia ouvia com frequência a pergunta irônica:”Onde está Deus de vocês? (Sl  115, 2). A partir daí cresce a consciência de que Deus se revela e se mostra próximo mediante ma legislação justa. Praticando-a, o povo se torna  grande nação, com leis sábias e inteligentes (I leitura). 

Jesus é o que anula as tradições humanas que distorcem a vontade divina. Anulando os preceitos humanos, aponta para um novo tipo de moralidade na qual a impureza que afasta de Deus não depende de condições externas, mas das opções de vida das pessoas. Relacionar-se com Deus não é fazer uma série de ritos de purificação, e sim fazer opções profundas pelo seu projeto (evangelho). 

Às comunidades cristãs no final do I século sentiam a tentação de fazer da religião um relacionamento com Deus separado dos compromissos de solidariedade e justiça. A carta de Tiago vem iluminar essa questão ( II leitura) 

Deuteronômio 4,1-2.6-8 – Uma legislação justa que contagie o mundo todo. O Deuteronômio é um conjunto de estatutos e normas que visam levar a uma prática de vida conforme a Aliança com Javé, dentro da terra prometida. Trata-se de uma nova Constituição. Com ela, Israel viverá segundo a sabedoria e a justiça, isto é, segundo o projeto de Javé. Não há nenhum legalismo, pois entre Javé e seu povo existe uma relação de parceiros: Javé responde todas as vezes que é invocado. Javé é um Deus que não fica preso a leis, mas está sempre aberto para responder às novas situações do seu povo. 

Marcos 7, 1-8.14-15.21-23 – A nova moralidade trazida por Jesus. Jesus desmascara o que está por trás de certas práticas apresentadas como religiosas. E toma um exemplo concreto referente ao quarto mandamento. Corbã era o voto, pelo qual uma pessoa consagrava a Deus os próprios bens, tornando-os intocáveis e reservados ao tesouro do Templo. Aparentemente Deus era louvado, mas na realidade os pais ficavam privados de sustento necessário, enquanto o Templo e os sacerdotes ficavam ainda mais ricos. 

 O que vem de fora não torna o homem pecador, e sim o que sai do coração, isto é, da consciência humana, que cria os projetos e dá uma direção às coisas. Jesus anuncia uma nova forma de moralidade, onde os homens podem relacionar-se entre si na liberdade e na justiça. Com isso, aboliu a lei sobre a pureza e impureza (Lv 11), cuja interpretação era o fundamento de uma sociedade injusta, baseada em tabus que criavam e solidificavam diferenças entre as pessoas, gerando privilegiados e marginalizados, opressores e oprimidos. 

Tiago 1,17-18.21b-22.27 – A verdadeira religião. Deus é autor apenas do bem e daquilo que leva ao bem. Jamais conduzirá alguém à morte, pois o seu projeto é dar vida, e vida em plenitude. O supremo bem realizado por Deus é gerar os homens para a vida nova, comunicada pelo Evangelho (= Palavra da verdade). 

Tiago chama a atenção para a essência da vida cristã: ouvir a palavra do Evangelho e colocá-la em prática. A fé não se resume em afirmações que podem ser ouvidas e decoradas; ela é compromisso que leva a tomar atitudes concretas e cheias de consequências. Centrado no mandamento do amor, o Evangelho é a lei da liberdade, pois o amor não se restringe a exigir a obediência a uma lista de obrigações; ele é comportamento criativo, que sabe dar resposta libertadora e construtiva em qualquer situação. 

 Temos aqui um dos pontos centrais do Novo Testamento: o culto que se pede aos cristãos não se resume em cerimônias ou em saber fórmulas de cor. O verdadeiro culto é a entrega de si mesmo a Deus para viver a justiça na prática: não difamar o próximo (língua); socorrer e defender os pobres e marginalizados (órfão e viúva) não comprometer-se com a estrutura injusta da sociedade (corrupção do mundo). 

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